Relações de interesses entre o Brasil e os demais países latino-americanos

Ultimamente, muitos são os estudos e publicações sobre os principais interesses nas relações diplomáticas entre o Brasil e seus vizinhos sul-americanos na luta pelos seus principais interesses econômico-financeiros, principalmente no que diz respeito ao setor de exportações. De acordo com Bava, em seu artigo “Gigante pela própria natureza”, o Brasil tem sido acusado recentemente de imperialista por seus vizinhos por procurar promover uma política de expansão e de domínio territorial, cultural e econômico na América do Sul.

Para discutir um assunto tão importante como este, faz-se necessário voltar um pouco no tempo e analisar o início das relações diplomáticas entre o nosso país e os demais países sul-americanos, desde o final da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente entre 1946 e 1964. Neste período, os dois grandes líderes Brasil e Argentina emergiam desse conflito com interesses semelhantes de crescimento e desenvolvimento, porém em situações ou posições antagônicas: a Argentina que possuía uma grande influência inglesa, liderada por Juan Perón, encontrava-se em conflito com os Estados Unidos versus o Brasil que vinha sendo prestigiado por cooperar com os Estados Unidos, ao enviar tropas para o cenário da Segunda Guerra na Europa e pela derrubada da ditadura estadonovista, liderada por Gaspar Dutra e, posteriormente, por Getúlio Vargas.

Enquanto a Argentina se posicionava durante este período como um país não alinhado ao bloco do ocidente, sem participação nas principais organizações mundiais como FMI, Banco Mundial, TIAR, etc. e declarando a Terceira Posição em política externa, paralelamente eqüidistante dos blocos que emergiam durante a Guerra Fria, o Brasil procurava neste mesmo período construir uma política externa de acordo com as “vontades norte-americanas”, abrindo seus mercados, permitindo remessas de lucro ao estrangeiro e, inclusive, participando de todos os foros internacionais com a grande potência do norte.

As relações entre o Brasil e os Estados Unidos tornaram-se conflituosas quando os interesses do nosso país não foram considerados pelo governo norte-americano diante das promessas não cumpridas de ajuda ou recompensa pelos acordos realizados durante e após a Segunda Grande Guerra, conduzindo suas relações a verdadeiras decepções e permitindo dessa forma um maior interesse de aproximação do Brasil com a Argentina e os demais países latino-americanos. A partir deste momento, o comércio na América do Sul cresceu principalmente entre as suas duas maiores economias e, os seus interesses de crescimento e de desenvolvimento acabaram influenciando os demais países vizinhos, consolidando-se dessa forma um bloco econômico independente.

O que levou o Brasil a destacar-se na América do Sul e a tornar-se o principal líder deste contexto foi a percepção dos empresários brasileiros, principalmente do setor industrial, da importância estratégica do continente sul-americano para os seus negócios, como por exemplo, o mercado argentino que em 2006 absorveu algo em torno de 44% de toda a exportação brasileira para este continente e o grande número de acordos realizados com países extremamente importantes como Chile, Colômbia e Peru, países estes com os quais o Brasil sempre sentiu dificuldades em aprofundar acordos.

Finalmente, o Brasil mantém uma posição privilegiada devido à sua própria diplomacia, praticada desde o período pós-guerra, no qual o nosso país procurou discutir os seus interesses, firmar seus acordos, sem questionar a posição e os reais interesses de seus vizinhos, como no caso de Juan Perón e Gaspar Dutra (Peronismo versus Dutrismo) comentado no início deste artigo, aproveitando inclusive a confortável posição de ser uma das maiores economias mundiais e, conseqüentemente, a maior economia sul-americana, fato este que permite o Brasil assumir silenciosamente a liderança da América Latina, segundo o New York Times, com investidores brasileiros presentes em países estratégicos como a Colômbia, Venezuela e Argentina, o que vem confrontando com os interesses norte-americanos, mas, em contrapartida, é visto como “um mal necessário” pelos demais países da América do Sul por ajudar na promoção de um crescimento econômico-financeiro mais bem estruturado, convergindo para o interesse de todos ao mesmo tempo.

REFERÊNCIAS

CAVLAK, Iuri. América do Sul em Foco: As Relações Diplomáticas entre Brasil e Argentina e a Luta contra o Subdesenvolvimento (1946-1964). 2008 Disponível em: .
Acesso em: 26 fev. 2009.

BAVA, Silvio Caccia: Gigante pela própria natureza. Le Monde Diplomatique Brasil; Fev. 2009.

BELARMINO, Guilherme. Exportador brasileiro prioriza América do Sul, mas é ameaçado por empresas dos EUA. Disponível em:
Acesso em: 27 fev. 2009.

ROMERO, Simon; BARRIONUEVO, Alexei. Presidente do Brasil assume silenciosamente a liderança da América Latina. The New York Times. 7 jul. 2008.

CASSEN, Bernard. Resposta ao liberalismo. Le Monde Diplomatique Brasil; Fev. 2009.

Por Henrique Eduardo de Oliveira
Relações Internacionais – 2009.1
Faculdade Câmara Cascudo – Natal/RN

0 comentários:

Postar um comentário